Incertidumbres

"Las incertidumbres, las incertidumbres." Em bom português: "as incertezas". Essa foi provavelmente a expressão que mais ouvi de um palestrante em um evento da Fundação Yuste. Lembro que na época estava conversando com uma amiga que também participou do evento comigo sobre quantas vezes ouvi o termo "incertidumbres". Parecia que, em espanhol, só existia essa palavra, e desde então, nunca esqueci aquele momento.

A palestra em si fazia parte de uma série de apresentações sobre políticas de integração e coesão social na União Europeia. Isso ocorreu ainda durante a pandemia, que, teoricamente, se encerrou no último ano. Naquele momento, os países do bloco já estavam discutindo de forma mais avançada do que o restante do mundo formas para enfrentar as consequências do pós-pandemia no contexto social e político.

A pandemia passou, mas as incertezas persistiram. A vida está repleta de incertezas, para além das discussões políticas de Estado ou de pandemias. Vemos o quão rapidamente as questões podem se agravar, desde altas taxas de inflação até doenças, acidentes de trânsito, secas cíclicas ou movimentos migratórios em cadeia. A vida é curta e merece ser vivida plenamente, independentemente de qualquer incerteza.

Quando penso nas incertezas que enfrentamos, talvez lhes atribuamos mais importância do que deveríamos. No Budismo, uma das ideias que aprendemos é que para encontrar maior tranquilidade, precisamos nos desapegar. Desapegar do passado, das incertezas, das certezas, de tudo e todos. Isso não significa esquecer, mas sim desapegar. Entre todas as incertezas da vida, a única certeza que resta é que todos nós vivemos rodeados de pessoas, o que é maravilhoso.

Entretanto, no final nosso destino é certo e sempre sozinho. Quando penso nas diversas incertezas, penso ainda no que move as pessoas, no que me move. Lembro-me do conto de Tolstoy sobre "Quanta Terra Precisa um Homem". E Tolstoy conclui que tudo de que uma das poucas certezas da vida é  de que precisamos somente de alguns palmos de terra macia.

Enquanto vivemos, as incertezas sempre estarão ao nosso redor. No entanto, até lá, temos um longo caminho a percorrer para entender e lidar com as incertezas da vida, e principalmente saber como, quando, porque e onde viver.

*Foto em Rynek Główny, Cracóvia (PL).